Desde onde ?
Desde onde?
Perdi os diários, os álbuns de fotografias
perdi a contagem dos dias
perdi o rumo, o prumo e as razões
só não perco as emoções!
perdi os trens, os vai e vens
as liquidações
as promoções
e as ações sem nexo
perdi tudo que era complexo
desconexo
invisível !
Mas não perdi o tangível !
E no pó do tempo, na poeira e nas fuligens
perdi momentos...
apenas.
Andei descalça na areia
pisei as pedras do mar
voei inteira de ribanceiras
colhi as conchas e os sais
Andei escrevendo em nuvens
poemas liquefeitos
amores rarefeitos
e ilusões em raios de luz
Propus aos Deuses do Olimpo
uma barganha de vida
que me devolvessem meus diários
e as coisas que não foram lidas
Em troca andei costurando
alguns retalhos de vida
andei bordando lenços
e pintando margaridas !
Fotografei o instante
manipulei os meus rios
mudei a rota da morte
e de mim, virei habitante
moradora de meu semblante
dona do céu e da terra
do que foi e do que vem
pois nesta terra de ninguém
quem se emociona ainda
é rei.
Desde ontem
desde amanhã
desde o final da tarde
desde o depois de amanhã...
E o fonema sonolento
adormeceu no meu colo...
sonhou que era suspiro
exalando em si o intento.
Agora já chega!
vou fechar o meu diário
a chave vou jogar fora
lá por trás do abecedário.
Márcia Poesia de Sá - 2015.