BENS SEXUAIS.
BENS SEXUAIS.
E pela tua carne que herda nosso silêncio
Eu vou bebendo as gotas do tempo,...
Rememorando o nosso tempo de perdição
O fulgor que nossas partes tiveram asilo!
O caos da minha respiração misturada à sua
As luzes escuras de uma alcova luzidia
Onde as línguas falavam uma só língua
Perambulavam em entranhas orvalhadas
Em salivas de água benta, o amor flutua.
No beijo de olhos que rezavam na abadia
Na luta de corpos suados, largados à míngua
Essas serpentes de desejos tiveram suas cruzadas.
Em mãos que disparavam como um coração
A ansiedade era um relógio sem ponteiros
Veias eram dilatadas pelo pensamento,...
E a separação trazia com vigor um estado febril.
Nos cheiros e sabores de abraços de céus no chão
Nossos órgãos se alinhavam nesses desfiladeiros
Na ponta do pé tu me davas o alimento,...
Eras minha ama-de-leite! E eu mamava nesse quadril.
Nos choros de alegria perdiam-se nossas tristezas
Em orgasmos de ignorância, nos fizemos intelectuais
Ser somente um do outro era a nossa ganância
Unir as distâncias era o nosso caminho,...
Percebo, hoje, paixões construindo suas defesas
Criando atalhos para satisfazer seus bens sexuais
Tornou-se investimento, tem preço e intolerância
Olvidaram que todo amor, só prolifera se tiver seu ninho.
CHICO DE ARRUDA.