Bobo da Côrte
Teu olhar
Vazio como os meus, mas não iguais
Teu olhar
Me diz diversas coisas, palhaço.
Teu sorriso
Bobo, infinito
Teu sorriso
Ainda se abre dentro do meu coração palhaço, palhaço.
Como deixei, jogar-te fora?
Por que o deixei morrer assim?
Junto com a tua ausência
Morre uma parte de mim.
O tempo corre em tua mão, palhaço.
Choras de 21 em 21, a cada incidente evitado. Abortado.
Esquece o tempo e vive tua infância
Sorrindo a cor que viste no passado.
Na tua mão, o teu cuidado.
Teu amor escrito, eternizado.
Tua inspiração morta junto a ti.
Embora diga que "ainda está aqui".
Meu palhaço. Meu eu.
Pudera eu ter um sorriso igual ao teu.
Embora teu destino seja erro meu.
Lembro-me de quando a gente se conheceu.
Meu bobo. Meu espirito.
Por onde andas para andar contigo?
Sei que ainda moras aqui comigo.
Estar no lixo é meu pior castigo.
Teu canto bobo, torna meu sono em lágrimas.
Teu passo torno torna teu sonho em valsa.
Meu riso frouxo torna minha dor em prosa.
Meu bobo alegre torna meu vão em rosa.
Por que deixei-te partir assim?
Por que joguei-te fora sem temer o fim?
Por que matei minha fonte de felicidade?
Se há resposta para eu ser tao infeliz assim...
É que esquecer-te me fez sentir essa saudade...
Essa saudade que tenho de mim.
Tua imagem branda, meiga e sensível.
Num rosto jovial que parece não ligar.
Seu Remelexo sem jeito que mostra quem és.
Seus bracos abertos querendo flores, cores e calores.
Teu chapéu de quatro pontas apontando pra baixo e pro mar.
Me faz ter o desejo de recuperar
Teu canto risonho que, num suicídio cego
Teimei en cessar.
Tua pose de criança feliz
Me traz sentimentos que não sabem o que diz.
Teu embrião. Tua fonte. A raiz.
Me diz coisas fortes, que não consigo traduzir.
Trazem lembranças, sonhos, desejos, anseios
Gostos, desgostos, acasos, descasos
Me trazem de volta a essência e a voz
Me trazem, por fim, essa saudade de mim.
Meu palhaço, meu bobo, meu eu.
Amo-te tanto que não sei o que me deu
Sei que lhe quero de volta e que queres voltar.
Meu bufo. Espírito. Arlequim.
Do teu riso que queima-me os átrios.
Mate em mim essa saudade sem fim.