Quaresma

Caia a noite. A madrugada
Prometia paz, muita paz.
E minha alma regozijava
Ao fascínio do cerro enluarado.

Lá longe se ouvia um cantar
Era um coro de vozes
Rezando para as almas
E louvando as flores da quaresma a brotar

No terreiro meu pai batia a matraca
Eu, menino sem nada entender,
Rodava o zum-zum,
De repente parava e o coro de voz
Suavemente o hino começava.

Todos em casa fingiam estar dormindo
Sem nada poder falar, mas quando a prece
Terminava abriam-se as portas
Café com leite e broa de milho nos ofertava.

A fé era latente e em silêncio todos ficavam.
Ao ir embora se agradecia num canto triste
- Talvez o milagre da vida ou do pão
Doado a quem precisava- a Nossa Senhora.

Não sei se esse canto ainda existe
A Quaresma persiste
Na minha vida de outrora
E na firme memória de quem em Sericita mora.
R J Cardoso
Enviado por R J Cardoso em 28/12/2014
Reeditado em 16/02/2015
Código do texto: T5083215
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