Para Cristina, porque dela são todos os poemas.


Temos todo o tempo que cabe no tempo...
Porque não haveremos de contar a vida
Pelos encontros e desencontros...



Que não viceje em nós a angústia dos que não sabem
Sentir o prazer de ver no outro a vida plena...
A alegria de existir no amor e além do amor
No doce éter dos que sentem até quando não sentem.



Dizer que o sabor de um beijo, o enroscar de um abraço
Não é a síntese perfeita de um homem e uma mulher...
È crer em mentira vaidosa, orgulho de botequim.
Mas saber guardar o beijo, acalentar o abraço,
É deixar a alma crescer, senhora gentil das suas exigências,
Alimentar o amor com a promessa que não morre:
A promessa do sempre existir.



Que não me tente o gozo imediato da pressa...
Quero a dilação dos poetas, o contemplar sem época...
Amar talvez seja imaginar-se na alma do outro
Refletir-se no sorriso do outro
Levar o eu ao domínio do outro.


Que me venha à alma a vivências dos rios
Aquela intimidade que gozam ao desaguar no mar...
Se for o outro o mar, se sou eu o rio...
Que não me inquiete dimensão ou destino
Que eu seja apenas água...
Que mata a sede, que une o mundo em um só lugar.


Quero ter o tempo que pode ser também do outro
Que constrói, comigo, as virtudes do caminhar.
Meu tempo não existe, morte aos possessivos....
Quero a mistura dos dias, a rebeldia das noites,
Onde sem nada ter, terei...
Tudo que palpita em você.