NÓS DE SEM VOCÊ

Ainda vivo a vida de nós dois

As rotinas, mentiras e verdades.

Retomo cada lembrança como um roteiro

Peça teatral que me encanta a cada capitulo.

Ainda falo às manhãs tudo o que lhe falava...

Deixo na mesa tua xícara com tal dosagem de cafeína

A colherada de açúcar, a mesma marca de pão

Teus condimentos, assanhamentos e tudo mais

Tudo que te agrada.

Faço nossa reza semanal

Frequento o mesmo restaurante,

A mesma mesa me sento

E ainda lhe aguardo chegar.

Ouço teu pedido de desculpas

Sinto o cheiro das flores dadas

Como recompensa por aguardar.

O cardápio não muda, a postura não muda.

Tudo e tudo permanece igual.

Ainda retardo fitando teus olhos

Passeando sob as linhas do jornal.

Ainda me pego a sorrir quando

Vejo teu olhar sarcástico para a república

E lhe repreendo pela boca suja para com tal.

Lavo ainda junto a minha roupa

Teu paletó, uso sempre a mesma quantia na compra

E assisto a merda daquilo que outrora odiava, hoje gosto,

Tuas apostas...

Ao deitar-me, sou eu quem ainda apaga o abajur

E lhe dá o copo de leite quente que me queima os dedos,

Maldito leite, ontem deixei cair e banhar tua poltrona.

Lembro de cada formato da fumaça

Que baforava ao beijar-me e ainda guardo

Em minha boca o nojento gosto de fumo canadense...

Arrumo tudo e depois bagunço só para lembrar de tua organização.

Ainda choro por tua palavra

Afogo-me ainda no teu ego

Até abrir os meus olhos,

Fechando as comportas deste

Doloroso...

Guarda-Lembranças

Diogo Acrizio
Enviado por Diogo Acrizio em 22/12/2014
Reeditado em 22/12/2014
Código do texto: T5077274
Classificação de conteúdo: seguro