placa de vidro esmaltado
queria de novo as palavras
que me confortassem outra vez
a frigideira me olhava
com cara de viuvez
e eu fingia que via
procurava a poesia
na placa de vidro esmaltado
sobre o único basculante
ela continha o semblante
da nossa branca geladeira
vi que fizera a besteira
de ter brigado contigo
de ter me mantido altiva
mandando-o embora de casa
mandando-o sair da cozinha
que não era tudo o que eu tinha
que juntos o quarto e a sala
o andar de cima e o jardim
e todo o imenso quintal
não valem nada pra mim
nem têm um dedo do mal
que é sempre gostar de você
isso eu preciso entender
mas não precisava querer
que fosse dessa maneira