ULISSES
Na manhã de sol formosa,
Ele a avistou;
Olhos translúcidos,
A grinalda de flores nos cabelos,
Pela orla a caminhar
Na ponta dos pés;
As ondas molhavam o seu vestido;
Nunca viu nada igual!
Curvou-se a seus pés,
Jurou-lhe amor eterno.
Ela sorriu, enrubesceu,
Fugiu com seus tornozelos mimosos...
Mas não lhe escaparia,
Cingiria a cintura espartana
Para nunca larga-la de seus braços...
E, no doce ósculo, mil sentidos,
Mil venturas;
O vento a rugir.
Brilhe, astro-rei, no cimo do firmamento!
Mas, o dia-a-dia a se avizinhar,
Labutas, responsabilidades, aborrecimentos;
Seu coração olhava o mar,
O ir e vir, o horizonte;
Ela, formosa, amamentava o rebento;
Entretanto, as ondas o chamavam;
Entre o dever mesquinho
E as asas da liberdade,
Esta última o chamou;
Na mesma praia, ela e o menino,
Aos prantos, ele também,
Prometeu a ela, sem piscar:
“Vou te encontrar,
Onde estiver, por onde andar,
Há de me esperar !”
E os perigos enfrentou,
Decifrou enigmas,
Sorveu vinhos,
Viu belíssimos monumentos;
As mais exóticas e perfumadas damas,
Mas não, só nela, só nela pensava !
O remanso do mar,
A brisa fresca,
Os olhos das outras,
Os cabelos a balançar,
Só dela, só dela lembravam!
E ela fazia longos trabalhos,
Olhava o horizonte a suspirar;
Quando os seus olhos cristalinos
Veriam os seus?
Muitos maliciosos, indignos, indecentes,
A soprar-lhe no ouvido propostas vis;
Longas noites escuras a suportar;
Onde andará?
Mas então se lembrava
Das últimas palavras, e dizia:
“Vou te encontrar,
Onde estiver, por onde andar,
Hei de te esperar”
Mas eis que um dia o sol desponta,
Na mesma praia , no mesmo horizonte;
Ela a olhar o mancebo a brincar;
Os mesmos gestos, os mesmos olhos,
Na mesma areia fresca,
O mesmo mar,
O mesmo horizonte;
Outro tempo!
Eis que avista dois pés junto de si;
Seus olhos se encontram,
Seus lábios se encontram,
Suas vidas se encontram,
Mesmo com tanto desencontro,
Ambos a cantar:
“Vou te esperar,
Onde estiver, por onde andar,
Hei de te amar!”