Discussão

Quando em tua mão toquei

Juro que não acreditei, e te estranhei

E te agarrei nos teus cabelos, teus zelos

Teus pelos, pelo menos nos novelos

Tem pena, não machuca, não me usa

Me procura quando quiser, e não abusa

Meu telefone é de cartão, só ligue caso for perdão

E que seja sincero, já que a ligação

Vive cortando aqui no Rio e o redentor é o desafio

Para meu recomeçar diante de tanto mar

Não se afobe em se mudar

Juro que terei cautela não, eu não vou voltar

Sei que meu caminho é tortuoso, mas sei também

Que amor sem gozo é choro para carpideira

É erva trepadeira, suga minh'alma, traga meu versejar

Quando eu voltar não quero teus sapatos

Nem um desses teus percalços, encostos

Enlaces... Te amo e não posso negar, é fato

Amar demais passou a ser o meu defeito

Homem sem rédeas é joio, sementes malditas

Trigos tão rarefeitos...

E num desses encantos você se perdeu e eu chorei

E me humilhei e te agarrei, juro que tentei

Mas é que quando a alma chora, o tango toca

Mas sou da bossa, velha guarda tenho história

Desculpa se te fiz acreditar num amor cego

Mas é que a modernidade me deu lentes e essas, amor,

Não são ébrias, nem negras, são de um translúcido venéreo

Se eu pudesse agradecer juro que faria

Aquele amor que juraste, tava mais para idolatria

Eu tão pedestal, você tão alforria

Fomos cada dia mais escravidão, o tempo cantando

Urgindo, fugindo e nada de você me dar a mão

Ai o que será de mim agora... Se com você tive

Horizonte, hoje vago mundo afora,

Ó metade tão certa de mim

Ó pedaço extirpado de mim, leva meu penar

Que a lembrança dói como um infarto,

Num membro que mal nasceu...

Ó restos que foram de mim

A maior esperança, a fé na vida, a má lembrança

Da criança que nunca fui, que vive ali na estrada

Logo após curvas sinuosas, ela assoa o nariz

Fé na vida, roupas na mala, ela é rebelde

Vive a fugir de casa...

Dá licença, senta aqui, a verdade dói, mora logo ali

Rua da amargura, não vai... Toma uma comigo,

Nem que seja uma xícara pura, que brindemos o porre

Homérico de nós dois, que os erros sempre estarão lá

Deixa para lá, o que podemos discutir depois...

Gabriel Amorim 12/12/2014

Gabriel Melo Amorim
Enviado por Gabriel Melo Amorim em 12/12/2014
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