Se Soubesses
Se soubesses, se soubesses
do que causas no silêncio...
Do degelo das palavras
que escorrem nos meus dedos
para ser um rio de versos
e inundar a solidão.
Se soubesses que em ti
toda rosa principia
na ternura dos teus olhos
com tristeza de ocaso;
que encantas minha insônia
com prenúncios de aurora
a fitar-me silenciosa
na ausência que me habita.
Se soubesses, se soubesses
que há fogo sobre o gelo
nessas noites de inverno
quando chegas na poesia...
que as estrelas dialogam
com tremores de cristal
refletindo teu olhar
na vidraça inconsolável...
Que a vida é uma mentira
que acredita nos teus olhos
onde um anjo exilado
sinaliza primaveras.
E qualquer palavra tua
(Até mesmo teu silêncio.)
é a água que me salva
no deserto do poema.
Ah, se soubesses, se soubesses
que não há ilha por perto
se me faltas no naufrágio,
e que nada me socorre
quando a noite me apunhala
até a hora da manhã
quando os sinos te declamam.