Haustórios de amor
Desculpa se entrei sem pedir licença
Se foi muito brusca a batida da porta
Ou o ruflar de minhas asas roçando na dispensa
É que não medi o tempo, vaguei nas órbitas
Esperei tempo demais para ser feliz
Hoje sou assim, rompante saudade, constante reconstrução
Cuidado... Vê se tem piedade...
Acho que cheguei depressa, mas não interessa
Você nem quis me dar a mão, e me soltou
E hoje de mãos dadas, eu e solidão, ando meio frio
Extasiado, incólume ponto pulsante em na escuridão
Perdoa esse turbilhão que me tornei
É que a vida pediu e moldou-me assim
Esqueci de respeitar pudores, hoje caço amores
Entrego-me lágrima a lágrima ao primeiro que passar
Que é pra ver se me doando pouco a pouco você finja de louco
E tente remediar o que houver de mim na praça, a última lasca
O fragmento meio queimado dos papéis que rabisquei, em brasas
Percebo que não caibo aqui, é algo meio masoquista
Se te entrego todas as pistas e você me despista
Se jogo um jogo que não te conquista, se pesco e sobram iscas
Hoje sou marinheiro velho a procurar marolas, vitrolas, auroras
Lembranças de mim...
Tentando lembrar onde foi que me perdi
Se foi no assoalho desse pé-direito, nesse teto reto
Nesse papo alto, nesses muros baixos, nesse teto de vidro
Eu ardilosamente ousei atirar pedras, e estilhaçado cortei-me de amores
E reguei ainda de vinagre as flores, vermelhos botões de mim
É, fazer o que, sou mesmo assim, insistente, poucas vezes resiliente
Mas filho de Deus sou sempre clemente, peço a cada dia para não deixar de florir
Quero sempre me ramificar, parasita serei, desculpa, mas é que tua seiva
Me acostumou a deixar sementes, raízes, frutos, tão doces, tão doces...
Gabriel Amorim 06/12/2014