Busco o regaço das esquinas
Ergo-me num plano amplo, largo e lácteo,
de um céu bolinado às torrentes do teu olhar.
Elevo-me amuralhada em grades de cimento
na noite incendiada dos meus olhos,
com um sorriso dionisíaco de quem escolhe arestas,
de quem recolhe vampírico sangue
da fonte salgada das palavras
e delas, sequioso, abocanha o alimento
essencial em maternal seio.
Ergo-me, neste enleio, num adeus de mim
vazio,
ao mistério alterado de um rio a correr p’ra norte
Em busca de si e do seu veio
Em busca de um colo
De um fértil solo
De um abraço inteiro, de um só beijo, ardente.
Busco o regaço das esquinas, ávida, descalça e nua,
nas ruas e nas rugas
abertas ao vergão das lágrimas.
Estas, depositadas aluviões em tuas margens
brandas.
Lágrimas inócuas, invisíveis, incolores,
interiores.
Quinas cristalizadas d’ansiedades, d’ agonias –
somatórios maiores de milenares dores…
Finda marioneta, alteio-me por fim elevada, amor,
na grua manifesta da tua mão, no devaneio
silenciado em porão, no desejo do teu cio,
de ser proa, vela, casco…ser cais ou ser navio.
Deste promontório, olho o mar.
Alteio-me num plano dilatado, vasto e cândido,
de um céu bolinado às vagas marinhas do teu olhar.