O ALARIDO
O amor lhe vem de reclusos cantos
e tu não sabes bem porque que choras
nem onde habitava tal sentimento
que, em ti, não suspeitavas.
Mas vem (e se debate tanto)
como pequenos bichos em desespero
passarinhos tontos, se chocando
com as treliças das gaiolas.
Mais do que a liberdade, almejam o doce cativeiro.
O amor vem, vai passando a hora e quando se vê
a fera ardente, pula de uma só vez
com as garras talhantes e com a avidez
de suas presas, sem dar chance, te devora.
E quase não te dá noticias nem recado, este amor que vem.
Como vão teus pais? E tuas filhas? Tudo bem?
Te lembras quando viajamos para a China?
Não? Mas que pecado!!!
E ficas tonto com as liças desta criança, que ainda te domina.
De um suposto ser sob controle, tu te vês um quase nada
carro sem freios viajando a mais de cem.
O fato é que vem e vem de novo
e assim como vem, o amor se vai
buscando iludir a dor, que pressente vir também.
Se o ser amante é de tão frágil textura, Açúcar Candy
que se dissolve ao ar livre, o que dizer, então
sob o calor do sol e da paixão?
Fica o ente amado, silente, olhando, sem falar
e agora, já também apaixonado, atônito, aturdido, tomado
pelo grito mudo, com tamanho alarido
mas já sem nenhum amor à lhe curar.