O ALARIDO

O amor lhe vem de reclusos cantos

e tu não sabes bem porque que choras

nem onde habitava tal sentimento

que, em ti, não suspeitavas.

Mas vem (e se debate tanto)

como pequenos bichos em desespero

passarinhos tontos, se chocando

com as treliças das gaiolas.

Mais do que a liberdade, almejam o doce cativeiro.

O amor vem, vai passando a hora e quando se vê

a fera ardente, pula de uma só vez

com as garras talhantes e com a avidez

de suas presas, sem dar chance, te devora.

E quase não te dá noticias nem recado, este amor que vem.

Como vão teus pais? E tuas filhas? Tudo bem?

Te lembras quando viajamos para a China?

Não? Mas que pecado!!!

E ficas tonto com as liças desta criança, que ainda te domina.

De um suposto ser sob controle, tu te vês um quase nada

carro sem freios viajando a mais de cem.

O fato é que vem e vem de novo

e assim como vem, o amor se vai

buscando iludir a dor, que pressente vir também.

Se o ser amante é de tão frágil textura, Açúcar Candy

que se dissolve ao ar livre, o que dizer, então

sob o calor do sol e da paixão?

Fica o ente amado, silente, olhando, sem falar

e agora, já também apaixonado, atônito, aturdido, tomado

pelo grito mudo, com tamanho alarido

mas já sem nenhum amor à lhe curar.

Ricardo S Reis
Enviado por Ricardo S Reis em 29/05/2007
Reeditado em 20/08/2007
Código do texto: T505825