Impossível Despedida
Deitei o porta-retratos sobre a mesinha da sala
Aquele que continha teu sorriso estampado junto ao meu
Tencionando não mais sentir o desejo incontrolável
Que me acomete ao contemplar tua face perturbadora
Verdadeira obra de arte, objeto de meu máximo deleite
Delineada e esculpida por algum artista genial
Lavei todas as minhas roupas
Pretendendo tirar delas o teu perfume
Aquele aroma inconfundível que me embriagava
Nas inúmeras vezes em que te esfregavas sobre meu corpo entregue
E com carícias incessantes me fazias flertar com a loucura
Experimentei beijar outras bocas
Na tentativa vã de encontrar alguma que superasse teu gosto
E me fizesse esquecer de vez da doçura do néctar com que me brindavas
Daquele sabor inexplicável que neutralizava as amarguras do cotidiano
Enquanto minha língua dançava entrelaçada à tua
Apaguei o número do teu telefone
Porque estou certo de que ouvir novamente a tua voz
Melodia cadenciada que acelerava o ritmo do meu coração
Seria verdadeira tortura irresistível
Que me capturaria como um canto de sereia
Queria lacerar-me, arrancar a própria pele
Como uma serpente que se renova a cada ciclo
Para não mais ter recordações dos arrepios de outrora
Quando tuas mãos quentes e tua língua aventureira
De minha nudez e ingenuidade tanto se aproveitavam
Mas agora é tarde para o meu coração desenfreado
Pondero e constato, atônito
Que nada disso seria suficiente para te arrancar de minhas entranhas
Pois como o ferro superaquecido que deixa sinais permanentes no gado
Marcaste-me para sempre, além da pele
Tua imagem
Teu cheiro
Teu gosto
Tua voz
Teu toque
Nada disso ficou para trás
Quem ficou para trás fui eu
No entanto, apesar de todo o pranto
A despeito de teres me virado as costas
Ainda estás aqui
Presente em mim
Por toda a eternidade
Tu, que vieste sem avisar
Tu, que me roubaste o coração e a inocência
Para depois me deixares no escuro e sem respostas
Saibas que de mim o perdão jamais terás
Porque conseguiste muito mais do que isso
Muito mais do que eu deveria entregar
Tu, que vieste sem avisar
Tu, que sem pedires
Vieste pra ficar.
Leia mais no blog pessoal "Devaneios na Ponta do Lápis": http://devaneiosnapontadolapis.blogspot.com.br/