DUETO: POEMA DE AMOR
Nélson de Medeiros e Célia Jardim
POEMA DE AMOR
Eu te amo como se ama o silencio profundo,
como se ama o berço natal e o solo fecundo...
Eu te amo como se ama a tarde ensolarada,
como se ama a branca lua
e o seu rastro que brilhante flutua,
na imensidão onde as Musas têm morada...
Nélsom Medeiros
Eu te amo como se ama a noite calma,
como se ama aquele sonho que acalma...
Eu te amo como quem ama o pôr do sol,
como quem se encanta ao despertar,
com o doce cantar de um rouxinol...
Célia Jardim
Eu te amo como se ama o aroma
do largo mar que no horizonte se assoma...
Eu te amo como se ama da noite a luz,
como se ama do dia as cores,
o cantar da passarada, um jardim de raras flores,
a campina verdejante, a primavera que seduz!
Nélsom Medeiros
Eu te amo como se ama um banho numa linda cachoeira,
como se lavasse o corpo e a alma inteira...
Eu te amo como se ama uma suave melodia,
que penetra o pensamento trazendo harmonia...
Célia Jardim
Eu te amo como se ama a aurora,
como se ama a tarde que estertora...
Eu te amo como se ama a viração
que a folhagem do bosque ondeia,
e onde a nostalgia vagueia,
passeando em solidão...
Nélsom Medeiros
Eu te amo como se ama o vento que assovia,
como se ama a brisa que acaricia...
Eu te amo como se ama a chuva fina ao anoitecer,
que faz leve serenata no telhado,
fazendo o sono devagar adormecer...
Célia jardim
É bem verdade que eu te amo...
Mas nunca saberás de tanto amor,
nem ouvirás do meu peito este cantar!
Este cantar que traiçoeiro bem revela,
todo o sofrer que amargurado anela,
o coração deste insensato trovador !
Nélsom Medeiros
Eu te amo no silencio profundo,
são teus, meus pensamentos de cada segundo,
mas jamais deixarei escapar,
uma palavra que revele essa ânsia,
de querer teus lábios tocar...
Célia Jardim
Não importa que minh\'alma despedace...
Os meus lábios hão de selar-se
no silêncio que impõe a lei...
E lá, nas estrelas, onde a dor fenece,
onde a luz que brilha não falece,
lá sim... Saberás que eu te amei!
Nelsom Medeiros
Não importa se meu coração vive em pedaços,
se não posso estar nos teus braços,
sei que não posso ter o teu amor,
que somos duas metades da mesma dor...
Sei também que não percebes,
que um mesmo amor, por ti esperas,
deixo-te crer que não percebo,
que por minha causa desesperas...
Se aqui há um limite contra nós,
entre as estrelas, num lugar no além,
um dia hás de ouvir,
o som esperado, desesperado, da minha voz,
e saberás que igual, te amei também...
Célia jardim
(Tive a honra de fazer este dueto com este autor, por quem tenho grande admiração e respeito pelas suas obras.)