POR ACASO, DÓI
Entre as sombras da noite,
a mão do amante
visitou o cerne de Mariana.
E, cuidadosamente,
abriu as pétalas
e tocou ali.
Ela fechou os olhos
e percebeu
que nada seria como antes.
Era a mulher em flor,
exposta
a uma boca ciosa.
De olhos fechados,
Mariana viu o mar.
Uma jangada feria as ondas
e o vento cobria tudo
de um misto de calor e frio.
E ela se viu nua
caminhando lentamente
em direção às vagas.
E, quando a boca cessou
sua viagem vadia,
Mariana sentiu
o seu corpo fluir,
como se deitado estivesse
no colchão da branca escuma
de seu mar interior.
Mas a noite cessaria,
Mariana sabia.
E o sol abriria seu leque
de claridade
e o amante partiria
para os terras
do não-se-sabe-onde.
E essa perspectiva fez
que Mariana sentisse,
em meio a muito prazer,
a dor de uma perda.