Quase tudo
Lembro-me do dia em que apertamos as mãos
estavam suadas
com taquicardias
era energia, não sabia
.
Lembro-me da boca seca e do olhar mudo
cheio de calos na voz conversávamos de tudo e de nada
falamos muito
muito pouco
.
Lembro-me dos fios longos dos ventos na Rua da Bahia
andávamos devagarzinho
pisávamos com cuidado
o tempo não parava,
também não o perdíamos
.
Lembro-me do soslaio de vez em quando
do medo da palavra errada
o beijo que não saiu
da mão que se soltou
e da vontade louca de gritar
.
Lembro-me da igrejinha no lugar de sempre
da santa calada na noite
o entardecer perto do cinema
e da moça pobre que pediu dinheiro
.
Lembro-me de quase tudo
depois esqueci de mim
o tempo passou
tudo passa
a vida passa
a gente envelhece
arrepende daquilo que não fez
e das palavras de amor que deveríamos ter dito aos montes.