Espelho,espelho meu...
“(...) eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?” ( Cecília Meireles:Retrato)
Espelho,espelho meu....
O meu coração sempre foi intenso
Maluquinho
Bem sem juízo
Não dava trela pra razão
E não interpretava os sinais
De uma possível desilusão
Doidivanas
Foi o meu coração
Mas
Ao mesmo tempo tão feliz!
Ao olhar de um amor nascente
Que me vinha
Num ritmo de um bolero
Romântico
E envolvente
Com palavras ternas
Em tom de sussurro
Ele se derretia todinho
Numa entrega total
E absoluta
Aí os dias e as noites
Eram só magia
A saudade me consumia
Mas o sorriso
Dos lábios não saía.
Foi assim por muito tempo
Emoção de um lado
Razão viajando em terras distantes
Até que a frustração
Que sempre vem depois
Do paraíso
Tirou do meu rosto o sorriso
De repente meu coração
Fechou-se em copas
Endureceu
Um tiquim assim
Passou a bater diferente
Não mais descompassadamente
Sem nenhum frenesi
E ao me olhar no espelho
Já não me reconheço
Quem é essa que vejo
Do outro lado?
Cadê os olhos de puro brilho?
O sorriso adocicado
A pele suave e quente?
Perscruto com o meu olhar
Todos os cantos
E nada disso encontro mais
É que depois de muitos ais
De suspiros dobrados
De tentar entender
O que não tem conserto
Nem nunca terá
A razão que viajava pelo espaço
Se instalou na minha mente
E no meu peito
Me fez enxergar todos os defeitos
Meus e de meu amado
Por ora ainda não me reconheço
Nesta face inexpressiva
Neste olhar esmaecido
Nestas mãos que nada buscam
Mas...
Já antevejo
Um outro retrato
Mais real
Mais maduro
E até mais bonito
E a ausência da espera
Da ânsia desenfreada
Da vontade da presença dele
Que me consumia além da conta
Deu lugar
A uma ternura infinda
Ainda mais linda
Que me faz crer com mais força
Que amar é preciso
E possível
Mas com a razão por perto.