A carta
Escrevi uma carta de amor
vazada em palavras singelas,
cristalinas como lágrimas de anjos
- se aos anjos fosse dado o dom do pranto-.
Selei-a com pétalas de rosas vermelhas,
perfumei-a com aromas de flores de mata virgem,
postei à mulher amada
e quedei-me a esperar resposta.
Passam as horas, correm os dias,
voam as esperanças nas asas da desventura
e a resposta não vem...
Meu coração palpita
trinam os pássaros em horários impróprios,
mas seus trinados já não me comovem.
Pensamentos obtusos me assaltam,
pesadelos atrozes me perturbam
observo a cidade vazia, mas a resposta não vem...
Até que lá um belo dia
ao mirar a rua deserta
um vulto ao dobrar da esquina
alegrou meu coração combalido:
Era o carteiro, enfim,
portando o mesmo envelope,
selado com pétalas de rosas vermelhas,
murchas e desbotadas, a me entregar.
No anverso estava inscrito
em carimbo bem visível:
Endereço desconhecido.
(Republicação)