Fragilidade

Sabe, acho muita infantilidade

Ter esse dom(?) ou diria insanidade

Mortes na rua e eu à vontade

A bolsa cai e eu choro de saudade

Desculpa se eu ainda sou daqueles

Que roubam rosas dos jardins alheios

Que dentre as serenatas faz os ensejos

Derramei café no jornal só pra você ler

O anúncio que fiz: “Procura-se um coração

Que ainda pulsa e ninguém vê”

Se encontrar pela calçada um desses meus lastros

Pega, por favor não desdenha dos beijos

Que humildemente esqueci pelo asfalto

São cacos de mim, não pise! Hão de furar-te

Eu gritarei loucamente, será jorro de sangue

Minhas veias aos paralelepípedos

A criança fui deve estar em Marte

E se a vida foi só um jogo do qual fiz parte?

Devo ser o narrador desse aforismo, ou só

Um baluarte, de nossa peça tragicômica

De nosso azar... Quem sabe farei arte

E era só você quem me entendia,

Me cobria na noite fria, éramos mútuos

Sempre rotos, ébrios, imersos na elegia

Quando assinaste minha alforria

Fiz greve de fome e moradia

Emagreci pois o que realmente me enchia

Era a fome de te amar a cada dia,

Desfrutando de cada pedaço do teu corpo, romaria

E nossa casa, em brasa, não tinha janelas

Se tinham paredes mal lembro, deviam ser

Quadros teus, nesse mosaico colorido

Fui tomado pouco a pouco, na ponta do pé

Escorreguei bem a beira do abismo

E quando esperei você não estava lá

E te estranhei, maldisse tuas remotas gerações

Xinguei tudo o que pude, não senti dor

Quando dei por mim já sarei, bati roupa

Rememorei... Onde eu estava já se tratava

De um buraco um tanto escuro... Sótãos de mim

Você não deve querer entrar, é meu submundo

De fato, tenho todo direito de tê-lo, não quero

Expor ao mundo, meus demônios, sonhos

Paixões a quem nunca procurei, meus olhos

Gabriel Amorim 14/11/2014