Amor II - Humano
Encontrei em mim humanidade
Clara e quente como a areia
Banhada pelo sol da tarde
Estúpida e fria como a cadeia
A mesma cadeia que prendeu-a
Iludindo-a com falsa liberdade
Encontrei esta odiosa humanidade
Que eu nunca conhecia
E, por Deus, nem tinha vontade!
Pois que me deixa patético
Cataléptico em tenra idade
O peito em chamas, a pele fria!
Encontrei perversa humanidade
Sinistra e vil, voraz e torta
Que mostrou-me nu e frágil
Em lágrimas que escorriam
E pela boca me desciam
Quando eu louco, porém ágil
Sentia seu gosto de ansiedade
Bebia tudo com voracidade
E cuspia apenas a palavra morta
Encontrei-a maldosa, desonesta
Vilã, traiçoeira e funesta
Esta moléstia, a humanidade
Que eu preferia tê-la deixado
Escondida num canto, num vão ou num lado
Para mofar no olvidamento
Para morrer no profundo de mim
Para que eu pudesse, enfim
Não sofrer por teu doloroso
E também, assim, furioso
Atroz desaparecimento
Encontrei-a, sim, encontrei
Mas hei de desencontrá-la
Pois perdi muito sangue e chorei
E sequer pude reencontrá-la
Pois veio com força e má
Veio para me matar
Este monstro inumano
Esta, cheia de engano
Pérfida humanidade