Escuro
Em lugar íntimo que não sei
registo as sombras e as mágoas.
Muitos foram os tons de negro
ou a ferrugem nos dias
que marcaram de violência o começo.
Limos, teias, fios saíram de todos
onde pousei o olhar.
Enredaram-me, rente ao chão e
inúteis as asas foram tropeço,
e houve lágrimas no lastro do tempo.
A juventude, a beleza, a força e a sabedoria,
jaziam tapadas de lama, fuligem e pó.
Sobreviver implicou seguir,
por caminhos errados, o destino.
Todos os olhos eram cegos,
todos os corpos gelados,
todas as bocas foram fonte de dureza ou silêncio.
E tu tardavas.
Quando contigo veio luz, já não te esperava.
Eras o barco que me queria navegar
e eu o mar inexistente.