O AMOR ESTÁ BÊBADO
Escolha um traço do meu rosto
Escolha um caminho no meu corpo possesso
Escolha um refúgio na minha alma leprada
Onde sua pele alva e quase,
Quase viva
E seu corpo sem máculas e cansado e perfeito demais
E seu cérebro sem sonhos e corroído pelo delírio do sol
possam finalmente
fugir da fúria da vida
Encontre esse canto na minha alma
Nos meus braços feitos de crises e fuligem e ferrugem e inocência
Membros prontos para romper os hemisférios de um planeta radioativo
Em nossa imperfeita e insustentável imaginação
Onde suas retinas negras,
Seu comportamento angelical e psicopático e xucro
Me convocam, célula por célula, ao que os antigos chamavam de amor
E as flores e os poemas nascem em meus poros
E esse notívago ébrio que sou
De repente ganha o aspecto de uma orquídea negra e quase.
Quase,
Bem plantada.
Venha se esconder comigo
E se puder traga sua lanterna e seu cobertor
A guerra começou
Meu uísque falsificado já era.
E o amor está bêbado,
Precocemente como sempre.