O AMOR ESTÁ BÊBADO

Escolha um traço do meu rosto

Escolha um caminho no meu corpo possesso

Escolha um refúgio na minha alma leprada

Onde sua pele alva e quase,

Quase viva

E seu corpo sem máculas e cansado e perfeito demais

E seu cérebro sem sonhos e corroído pelo delírio do sol

possam finalmente

fugir da fúria da vida

Encontre esse canto na minha alma

Nos meus braços feitos de crises e fuligem e ferrugem e inocência

Membros prontos para romper os hemisférios de um planeta radioativo

Em nossa imperfeita e insustentável imaginação

Onde suas retinas negras,

Seu comportamento angelical e psicopático e xucro

Me convocam, célula por célula, ao que os antigos chamavam de amor

E as flores e os poemas nascem em meus poros

E esse notívago ébrio que sou

De repente ganha o aspecto de uma orquídea negra e quase.

Quase,

Bem plantada.

Venha se esconder comigo

E se puder traga sua lanterna e seu cobertor

A guerra começou

Meu uísque falsificado já era.

E o amor está bêbado,

Precocemente como sempre.

R A Ribeiro
Enviado por R A Ribeiro em 27/10/2014
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