As duas faces do amor
As duas faces tem o amor em pele
Sente, chora um pouco, não se restringe
São cobertos de densidades emocionais
Onde o prazer se consome, e não finge.
A primeira face é recôndita, se entrega
Sorri ao vento de norte a sul, integrante.
Não economiza saliva para falar de amor
Não se arrepende, não ignora, é permanente.
A segunda face é gelante, não expressa nada.
Mas, ama perdidamente o gosto de gostar.
Se embola, hipócrita! Gosta de causar
Junta olhares dengosos a quem quer enganar.
A primeira rega amor com gotas de lágrimas, sem curvas.
Enche-se de verão, com as rosas, que ilumina as ilusões.
As músicas são românticas e melosas, às vezes doídas.
Engloba enchentes de carinhos, de singelas seduções.
A segunda usa o instrumento, enregeladamente
Ri, macabramente, dá gozadas sistemáticas do outro.
Apanha e bate, bate e apanha, gostosamente.
Se atira na noite descalça, com chuva e relâmpago.
A primeira colori o jardim cinza, com cautela
Se pudesse com o dedo, ensentimentado.
Manuseando colorações transcendentais
Vislumbrando o rosto do doce amado.
A segunda dá de ombros de soslaio
Sai de cena depois da marretadas lascivas.
Não se importa, ignora a dor, desaparece
Marca espaço no arranjo de buzinas.
A primeira é apaixonada por virtudes
Não mede esforços para amar alguém
A segunda gosta de brincar de amor
Quando vê, nada sobra, nem ninguém.