NEGRA FULÔ: PELADINHA DE AMOR
Recordo-me, divinamente, de meu dia de Frinéia.
Fui por ti repudiada, friamente, pelo manto caído.
Deixaste-me num dia como se fosse irmã de Capitu.
Atiraste-me a minha rua como Sansão sem Dalila.
Saí de meu casulo como quem tira a dor de asas
Meu voo foi amedrontado pela sina de Frinéia.
Não recebi a Grécia inteira para me inspirar
Nem a formosura das taças rosadas de Sabá.
Mas o cetro de teus desejos veio hoje me chamar.
Suplicas o meu perdão pelo gemido de Afrodite...
Eis que, diante de ti, sem razão e sem piedade
Deixo cair meu lenço de Desdêmona e castidade.
Perdoar-lhe-ei se em meu leito de Madalena
Vieres dançar, à luz de vela, a valsa vienense.
Perdoar-lhe-ei se o teu corpo vestir minha nudez
E se tua alma cativa sangrar e atar a meus pés.
E que seja uma ode triunfal a emudecer o céu!
Calar-se-ão Olimpo, Frinéia, Medeia e Odisséia.
E neste instante, sem véu, serei a menina e a mulher:
a peladinha Negra Fulô a embriagar de TEU AMOR.