Eu vi

Caminho ruas, mundos sem fim,

entre meio a desencontros, o ódio rondando, eu vi.

Era tanto desconsolo, tanta luta para o nada atingir

que chorei nas avenidas alagadas pelo desamor, senti...

Havia ódio nos olhos que almejavam um mal,

ódio esse que em minha insana sobriedade nunca percebi,

trilhas inacabadas desviando a estrada

onde em insólitos passos perderam de si,

nas ruínas, ouvi o choro rompendo o silencio que antes

ensurdecia o próprio juiz que tentava um ato sóbrio, eu vi.

Em altares pagãos, velas inflamavam uma fé que vi cair,

sacerdotes corruptos cultuavam deuses vendidos à sorte

nos invólucros de barro que nunca vi sorrir.

Ocupavam corpos pálidos já fenecidos no agouro que fez destruir

a terra que hoje é seca e nega a vida que nunca conheci.

Eu vi caminheiros arrastando-se sob a sombra do que foram

pelos leitos que secos descansavam seus rios,

vi poetas declamando o pranto

no choro abafado dos que chegam ao final,

vi o nu despido do pudor

contrapondo-se ao sóbrio que soube cair

nos profundos abismos que marcavam o tempo

onde a ignorância começava surgir.

Eu vi... E era tanta tristeza

nos olhos onde a luz ainda tentava luzir,

sobre a paineira um sol iluminando os retirantes

que não queriam partir.

Na graça de pequena centelha,

a esperança parida das entranhas, sem dor,

mostrava pequena criança

na missão do bem que um novo tempo iniciou.

... Eu vi...

12/01/2007

Aisha
Enviado por Aisha em 24/05/2007
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