A PRINCESA E O VAGABUNDO.

Da carruagem, olha seus súditos, a princesa,

E ao passar - todos eles se dobrando a ela-

Sentiu-se imensamente triste a donzela,

Em perceber-se escrava da sua própria alteza.

Queria olhar nos olhos daqueles muitos plebeus,

Mas na presença dela, logo todos se curvavam,

Olhavam sim para o chão, a ela não encaravam,

Não viam, pois a imensa tristeza dos olhos seus.

Viu o povo saudar Clara, a bela filha da Rainha,

Viu-os famintos, sujos além de feios e doentes,

Mas cada um deles ali sofria abraçado a sua gente,

Todavia saciada, limpa e sadia, Clara ia sozinha.

Desejou, de fato, Clara, aquele abraço familiar,

E estancou na garganta o fel de seu grito mudo,

-Pelo abraço que viu, daria de seu reino, tudo-

Ou pelo amor de quem ela pudesse, enfim, confiar.

Na mesma viagem quis o destino zombeteiro,

Por em seu caminho um ousado vagabundo,

“E com tanta gente nobre e boa neste mundo,

Por que há de lhe salvar aquele vil forasteiro?”

Somente o “zé-ninguém” para Clara não se curvou,

Por isso foi o único a ver da princesa o triste pranto,

E mesmo o guarda tendo lhe empurrado para o canto,

Pode ver um longo aceno com que ela o saudou.

Ah! Que o amor precisa, assim de tão pouca lenha,

Para acender a fogueira do humano coração,

Um olhar, uma palavra, o balançar de uma mão,

Inflama o peito daquele que por azar o contenha.

Perdeu o vagabundo de vez toda sua liberdade,

Escravo daquela paixão que feroz lhe dominava,

Mal comia, mal dormia, mal bebia, mal falava,

E arrastava seu corpo pelos becos da cidade.

No segundo do olhar que estes seres trocaram,

Para o corpo um do outro, mudaram as suas almas,

E o destino deles, então, é jamais sentirem calma,

Até que voltem vencidos para casa que deixaram.

Não há fim para o caso da princesa e o vagabundo,

Quem finaliza é você se achar que vale a pena,

Pois quem julga um coração, a algo ele o condena,

A ser feliz sem ter direito ou viver triste no mundo.