A Espera
Tu pertences ao ar lavado da Serra, ao jeito doce da erva tenra a descer por entre as pedras, à sombra das maiores árvores do Parque, à chuva que chora nos vidros da janela. És de todos os lugares por onde eu ande, noite ou dia, de tudo o que vejo com detalhe ou do que tacteio no escuro. Estás sempre comigo. Sei-te de cor, dos olhos à boca, do peito às mãos, do ventre ao sexo. Muitas vezes te chamo ao pensamento e, de mãos dadas, te levo a lugares onde, antes, nunca estivemos. Falamos menos, olhamos mais. Há palavras que saem dos teus olhos e voam, sedutoras ou determinantes. O meu nome é música nos teus lábios, os mesmos com que me aprendes. Somos um do outro tão plenamente, que nenhum de nós conhece o limite perfeito do outro. Preciso erguer-me e ganhar distância para voltar à solidão. Nela fico frio e nu. Vazio de sentido. Por isso corro para o sonho em que voo contigo, em que me transformo para ser o teu caminho, onde sou, em ti, o destino perfeito para tudo o que me faz homem e amante. Espero-te ainda. Vou esperar-te até que a memória te apague de mim ou te faças realidade. Quando chegares à minha noite estarei pronto. Eu sou a espera.