CANÇÕES ETERNAS
Escorres por entre as notas musicais
A canção percorre minhas espinhas dorsais
Teu hálito bafeja minha nuca
Como saudade da casa
Que no chão goteja jamais
É em vão como corrimão
Sem escada que as mãos vicejam
Como abolição sem escrava
Sou que nem mosca que não viaja
Memória que não grava
Sou-te o pó melindroso da estrada
A viagem pelo retrovisor da memória
A corda vocal
Que sufocou teu sussurro
O murro na parede
A sede
A convulsão
A paralisia
A contração
Sou contramão
Cada um na sua
Sou tua consciência pesada
Que dentro de mim flutua
Sigo paralisado
E polarizado em teu peito continua
Te aceito de volta como sol a lua
Mesmo que empedres
No hospital de tuas dores
Em que te falta o leito
Amar-te-ia sempre
Mesmo que no cemitério do breu
Levando-te as minhas flores
Pois que lá antes de tu jazia eu.