Nós
Estranho esse brilho nos meus olhos
refletindo as estrelas que me deste no olhar
quando andamos confundidos,
um no outro, a descobrir-se
na magia celestial de trocar de alma a beijos.
Tanto teu ficou em mim
que parece que escrevo com as mãos
que me afagaste,
que as palavras que articulo
têm o tom da tua voz
e sem ti, mal me equilibro
num andar descompassado.
É que tanto já vivemos
exilados um no outro
que a memória do que somos
só percebe o que for nós
no registro que guardamos
desse Eu forjado a dois.
Tenho dupla identidade:
eu em ti, vendo em mim,
Tu em mim, vivendo em ti
pois há muito já não somos
o que fomos divididos.
Separados não sabemos
a que rumo prosseguir
após tanto nos guiarmos
de mãos dadas pela vida,
após tanto sermos um
na unidade desse Nós.