Deixo... e Levo
Deixo em tuas mãos, meu coração envolto em saudades e repleto de amor e ternura,
Levo em meu olhar a imagem do teu que minh’alma tortura;
Deixo em tua boca o gosto adocicado dos meus beijos;
Levo em meu coração, ainda não saciado, alguns inconfessáveis desejos.
Igual as águas de um rio, a vida segue driblando obstáculos,
Cortando travessias...
Nosso amor, pacientemente aguarda até a
próxima estação...
O meu ou o teu novo desembarque;
Quem sabe, amor, seja antes do fim do verão.
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Ísis Dumont
Não Digas Nada!
Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender —
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer
Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.
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Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"