O Amor,Meu Amor

Nosso amor é impuro

como impura é a luz e a água

e tudo quanto nasce

e vive além do tempo.

Minhas pernas são água,

as tuas são luz

e dão a volta ao universo

quando se enlaçam

até se tornarem deserto e escuro.

E eu sofro de te abraçar

depois de te abraçar para não sofrer.

E toco-te

para deixares de ter corpo

e o meu corpo nasce

quando se extingue no teu.

E respiro em ti

para me sufocar

e espreito em tua claridade

para me cegar,

meu Sol vertido em Lua,

minha noite alvorecida.

Tu me bebes

e eu me converto na tua sede.

Meus lábios mordem,

meus dentes beijam,

minha pele te veste

e ficas ainda mais despida.

Pudesse eu ser tu

E em tua saudade ser a minha própria espera.

Mas eu deito-me em teu leito

Quando apenas queria dormir em ti.

E sonho-te

Quando ansiava ser um sonho teu.

E levito, voo de semente,

para em mim mesmo te plantar

menos que flor: simples perfume,

lembrança de pétala sem chão onde tombar.

Teus olhos inundando os meus

e a minha vida, já sem leito,

vai galgando margens

até tudo ser mar.

Esse mar que só há depois do mar.

felipe reis
Enviado por felipe reis em 06/09/2014
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