Discutindo relação
Sabe, deixa-me fugir, aliás não deixa
Não tenho eira nem beira, muito menos sou arteira
Sou eu quem voluntariamente hei de ficar
Não tenho lugar, sou do fogo, da mata
Da brenha, da estrada, sou da noite,
Quem sabe do açoite se você não me julgar
Se tiveres intenção de machucar, faça não
Pode ser a gota d'água, o fim da estrada
O latido mais alto para meus ouvidos, a fagulha, a palha, o tapa
Pode falar quando incomodo, grite comigo
Ao pé do ouvido, tudo fica melhor
Fale seus segredos, ajoelhe, peça arrego
Emprego, sossego, deixe-me ficar
Larga da minha ferida, vida, avenida
Sinais estão fechados, ruas paradas
Beijos no asfalto, tudo é frio na noite
Vejo-te passar nas vitrines, tenho ciúme
Arfo, resmungo, desdenho, piso, descalça
Amo-te silenciosamente para não exagerar
Se errei é porque quis acertar, gosto de tudo
Sacrificado, que é pra ver se experimentando
Amargo, sinto o doce mais tênue e decido ficar
Não te darei ouvidos, és donzela, o próprio perigo
Já te dei o cobertor, o coração, o abrigo, sou sincera
Não corro mais o risco contigo, linha tênue
Essa do amor rico, mas bandido
Quem é você, diga logo, onde deixou o passado?
Procura bem em tuas sinestesias, nossas orgias
Tão pudicas quanto dois animais, quem te fará
Companhia, sintonia, quem há de te versejar?
Confesso gosto da boemia, sou da cachaça
A Maria, que é pra fazer pirraça, te deixar sem graça
Cometer mil e uma hamartias
Olhe nos meus olhos e na cama vazia
O estopim de nosso onirismo, meu bem,
Foi a luz do dia, perdoa minhas promessas
Quando tive pressa querendo me casar
Meu jeito possessivo, é objeto de perigo
Se brinquei não foi por querer, quis passar
A eternidade de uma noite contigo
Falo de poesia vem com hamartias,
Sou aberta, essa mesma porta escancarada
Um tanto despedaçada, encharcada
Ainda tenho fechadura, chave e angústia
Pareces não ter pena, dilema ou poema
És sequidão e pesar, onde desalinha
Meu caminhar, o que era casual
E, infelizmente, fez-me amar
Gabriel Amorim 03/09/2014