Devidamente... Poesia

Nesta noite mais uma vez

chegas ao meu quarto.

Estás totalmente despida,

afeita, pronta, acesa;

buscas companhia alheia a querer,

não fazes perguntas, não respondes,

apenas te alojas indevidamente,

quase que ironicamente

em meu todo.

Recebo-te sem clamores

sentindo o peso, o jugo do teu jogo

numa troca de traços,

fazendo perfis nas paredes

desenhando lances transitórios,

misturando-te a fumaça esguia

que lentamente sobe do cigarro.

Suspiro em frente ao sono

pelo cansaço despojar-te,

deixar que tua nudez te vista,

que a noite te deflore, rompa teu véu

e faça de mim um esquecido,

um último solitário,

e que jamais venhas deslumbrar,

cobiçar minhas noites

tão cheias de ingratas, imaculadas,

incautas, indecisas indevidas.

Vindas erradas em horas certas

e ainda queres em certas horas

fazer teus erros, jogar teu jogo

no teu campo, no teu espaço

de insônias e desditas.