Sem razão

É inútil fugir, afugentar,

tentar encobrir o realismo

quando não se tem por quê sonhar.

Os toques nas mãos, nos dedos,

enquanto faço chuva de palavras,

descobrindo a noite, nua,

rispidamente solta aos encantos,

buscada, proclamada nas ilusórias,

patéticas horas de amores ilegítimos.

É inútil perseguir devaneios,

calar a verdade,

sufocar tantas tardes,

também pouco a pouco sufocadas,

oprimidas pelas cortinas escuras,

densas que de noite uma incógnita.

É difícil ser eu,

encontrar meu ego

tão obscuro, vadio, deixado,

solto nas intempéries vaporizando,

nada ao inexistente... a vida.

É difícil, inútil contemplar,

entender por quê, a razão,

esta obcecada ingestão de amor

convivendo na hipotética espera,

expectativa de tantos,

quando para se conhecer a coragem,

temos que saborear o medo.