INDOMÁVEIS AMANTES
Vamos achar
uma solução definitiva
para não morrermos,
querida;
de pronto,
entraremos num severo
regime de ilusões
e de imagens
que semeiam,
a cântaros cheios, pelas ruas, avenidas
e metafóricos céus
por aí.
Ah, e claro,
devemos ter todo cuidado com os pássaros,
os vaga-lumes, as borboletas,
as joaninhas e, sobretudo,
os anjos de plantão
que vivem
bem vestidos de peles, cantos
e luzes por aí; porque, na verdade,
podem ser obesos monstros
disfarçados,
a oferecerem vidas
e amores plenamente puros e fulgurosos,
para depois enterrarem suas crias
em porvires mortes.
Eu bem sei
de tudo isso, meu amor;
e eis porque proponho que nos morramos antes
– por nossas próprias escolhas –
às atuações que sejam
deles,
e tentemos viver
à nuvem com o que nos haja
– mesmo que pareça pouco –, verdadeira,
inalienável e inexoravelmente
só nosso.
Péricles Alves de Oliveira