Nas asas da recordação

A efêmera época que tive você,

nas palavras que eu não quis ouvir

as verdades pela mesa,

nas marcas que ficaram,

enquanto eu fui

sem saber por onde você ia.

As vozes que gritavam minha derrota

gravadas pelo tempo em cada parto,

em cada vão escuro de escada

por algo, por tudo, talvez por nada.

E ao longe a corrida das aves que não soltei,

pelos céus, pelo tempo, pela vida

nas turbinas de ferro que pesam,

machucam minha bagagem,

corpo inerte que carrego,

de saudade já cego

pela vida quase um escuro sem fim.

Palavras, apenas vocábulos

que retirados da sua boca

dançam ainda ao meu redor,

são andanças nas rodas do espaço

pelo quarto vago que restou em paredes,

pelas luzes fracas da mansidão.

São plumas que voam, soltas,

pássaros que não busquei,

insistentes nas asas saudosas.

São pedras que estão pondo,

choro de criança que rola em face dura.

São segredos, meus detalhes,

detalhes que tento e ainda escondo