Pela escuridão
Pela escuridão
Não posso te clamar de amor de minha vida
Sou borboleta imperfeita, metamorfoses de mim
Ruflam o mundo, asas em brasas, incoerências
Ardo todo dia que cego não te vejo, aliás não vejo
És luz, claridade, pessimismo talvez, realidade
As vezes te sinto séria, vivamos mais
És em tudo inteira, sê-lo sempre tão fugaz
Apaixonante teus trejeitos e percalços e
Defeitos, onde me acho, onde rechaço, rio, amasso
Caminhos perigosos tendem a me atrair
Procuro o que não acho em mim, sou fácil
Procuro o pleno riso, vivo carente, forças
Um sorriso, lindo, pleno, pessimista, amarelo
Sendo teu é tão bonito, meio fraco, farto, delirei
E faço conjecturas, imagino nossas vidas, nossas almas
Nuas aos arvoredos tão sem maldade, com frio, abraçamo-nos
Senti um pouco de tudo, até piedade
Queria a maçã proibida se contigo fosse do amor
Ansiava os rios caudalosos de serpente se viesse num barco
Não minto, só e as vezes parco, amo-te pacientemente, degusto
Dizem que no pranto é que purifica, eis-me aqui
Se há alguém aí acima de mim toma, pega o que é de carne
Leva o que há de sinestesia que saí da boemia, te encontrei
Sou do que sobrou a parte mais arredia, quem sabe teu complemento
Uma vez quis ser metade mas não era nem o começo
O que há em teu olhar indígena, são as drogas do sertão
Os venenos da mata, sua boca, suas bocadas, entocas, moitas
Bichos do mato seremos nós? Depende do dia
Somos bicho da lua, não sairemos daqui nunca
Não sei o que me dá, dizem que é meninice
Sinto-me maduro suficiente para chorar
Ora, se conheço o desgosto e do prazer já fiz parte
Sinto-me pleno e convexo suficiente para desaguar
Quando vejo uma obra de arte
Ah, faltam-me palavras para descrever
Acho que o que sinto é mera poesia barata
Nunca justificarão todas as minhas cartas
Teu poder, magia, bruxaria, santeria, fez-me
Sair do casulo, da monotonia, faz-me crepúsculo de novo
Moça morena como a noite, pessimista como o fim do dia
Gabriel Amorim 16/08/2014