O HOMEM EM SUA AUTENTICIDADE
Quero achar um homem, não em minha cama com o seu sexo nu.
Quero encontrar um homem com sua alma desmascarada, mastigada por minhas palavras insolentes, vomitadas por minhas hipocrisias doadas a mim na maternidade.
Quero achar um homem, não em minha cama com o seu sexo nu.
Quero encontrar um homem largado ao acaso, violentado por minhas razões efêmeras, arranhada pelos chicotes das decepções cotidianas, castigadas pelo poder do materialismo.
Quero encontra um homem que fale "filha de puta" com prazer nos lábios, sem medo de ser açoitado, se for, que passe por cima das bocas alheias que o julgam contra seu palavrão ingênuo.
Quero encontrar um homem livre de suas cuecas a segurarem seu sexo febril, de seus sapatos sociais a apertarem a ponta de seus pés.
Quero encontrar um homem sujo em sua matéria, imundo por fora de sua entranhas, porém límpido e transparente em sua alma.
Quero encontrar um homem solto da hipocrisia que finge sustentar a sociedade morfética do dinheiro adocicado, correndo feito mel pelos lábios da burguesia, que sofrem de enfisema pulmonar por falta de oxigênio próprio de sua personalidade sepultada.
Quero encontrar um homem mendigo a cantar e dançar suas algias sapateando em sua própria dor e mesmo assim, ainda sorrir, sorrisos autênticos, sem estar sendo pago por outro alguém.
Quero encontrar um homem com o nó da gravata desfeito, do relógio esquecido na gaveta do guarda-roupa que dança no pulso esquerdo marcando seus afazeres repetitivos e mesquinhos pela mediocridade que o selou feito cavalo de carga.
Quero encontrar um homem que me diga sim e não, sem medo de ter sua personalidade questionada, largado as traças e esquecido pelo seu sexo a flor da pele, por saber que não terá a pele a lamber e nem a flor a se desabrochar em seu corpo apodrecido em sua ampla nudez vestida.
Quero encontrar um homem a malicia pura, a amabilidade de menino, que sobrevivi dividindo a mesma cama com a futilidade e vulgaridade do sexo banal.
Quero encontrar um homem que caminhe com seus próprios pés, que não puxe o tapete do próximo para conseguir fingir ser um homem sábio, enfiando uma faca de dois gumes no peito do adversário para ter sangue nobre correndo em suas veias inflamadas de corrupção.
Quero encontrar um homem que brigue pelos seus ideais mais íntimos, mesmo tais sendo ridículos aos olhos alheios, e que saiba defende-los em praça pública diante de fulanos e beltranos.
Quero encontrar um homem que possa chorar todas as lagrimas aprisionadas desde criança e vire cambalhota na frente de quem não possa repeti-lo ensinando a serem grandes de espirito e alma.
Quero encontrar um homem livre do materialismo que o isola da família , que durma em alfa e acorde em beta e ache graça em seu nome não ser reconhecido por ninguém, nem mesmo pelo seu Criador.
Quero encontrar um homem sem dogmas, sem preconceitos a apontar o dedo, antes de dormir e ver que é um homem como qualquer outro, capaz de errar a todo instante.
Quero encontrar um homem que possa amar uma única mulher em sua vida inteira, deixando o amor se modificar entre as quatro estações do ano, um amor mais doce, sábio, menos egoísta, mas protetor, menos vulgar, mais sublime, por bastar de si mesmo.
Quero encontrar um homem, apenas um homem que mostre-me quanto tempo existe de dignidade dentro de si mesmo, antes dele morrer, e se valeu apena ter vivido como um homem em sua autenticidade.