A faca e o queijo
Esqueci os conselhos da sobriedade,
Embriaguei-me de desamor, até cair;
acordei de súbito no vale da realidade,
Debaixo dos borrões dessa inverdade,
pulsava uma pele ainda ardendo por ti...
Prazer dado qual esmola, compassivo,
fiz envergonhado; pois, furtei de você;
Lembrar-te aqueceu, fez o sangue vivo,
E o tesão derivou de um alheio motivo,
Uma ausência presente, avesso, porquê...
Só restou rebuscar meu decoro com zelo,
Impiedade geral foi causa mor do dilúvio;
Sei que não posso conter esse vívido apelo,
Pois, a mera lembrança já me eriça o pelo,
Tocar a tua pele fará explodir o Vesúvio...
Não há risco só restam ruínas em Pompeia,
Ecloda o fogo vai queimar apenas o desejo;
Do estrago resultante só uma vaga ideia,
Se quiseres adentrar eis o palco, a plateia,
Podes rir da fome; dou-te a faca e o queijo...
P. S. Estive circunstancialmente impedido, mas estou "vortado" ao Recanto, e aos poucos retribuo as gentilezas recebidas, abraços.