Acrópole sombria

Sem uma lágrima

vou tentar alongar a noite,

embalado no sossego das folhas

que ainda desprendem das árvores.

Vou tentar causar fantasias

nestes momentos para esquecer

das mãos e seus afagos,

entre as luzes, dos beijos

grafados nas pautas,

no sorriso delineado pela alegria.

Vou tentar formar coisas

para habitar meu terreno vazio,

é um gesto crespo, obscuro,

quase fuga de um nada

que me prende, mora comigo.

Mas, vou tentar possuir

o dom sem defeitos, nem complexos,

refazer os reflexos da vida,

aquela vontade se ser,

de palpitar, bater

no peito um coração que grita

chamando de saudade seu nome

que se esconde nos arrabaldes

desta solidão,

desta província sem estado,

infectada, em estado de emergência.

Vou tentar no sossego da noite

embalar meus devaneios

pelo amor alugou parte da vida,

a única, que ainda possuo.