Vigília
Vamos de ronda,
o tempo ataca
na ponta da faca,
gira o pião
da flor e o pendão,
do botão a menina,
do ponto a esquina,
da febre o desejo,
pela boca rola o beijo.
Façamos a ronda,
a hora avança
na ponta do ponteiro,
pela ponta da lança
suspira o alvissareiro,
cala-se o descuido.
Rompe o segundo,
vamos a ronda,
a luz se apaga,
no ocaso a saudade esconde,
na areia rebenta a onda,
no olhar aflora a dor.
Vamos que é hora,
ronda a ronda,
vença o tempo,
desalinha o vento,
procure sua prece,
tire do nada sua razão,
faça ampla sua cabeça,
vá para ronda
não perca a sorte,
vença a morte,
pelo menos antecipe a vida.
Façamos, vamos,
recebamos a energia da esperança.