Cotidiano

Vence quem corre mais,

quem ponteia o trem de carreira.

Quem tropeça, cai, fica,

toma da água usada,

rola na boca beijada.

Vence quem ponteia,

quem faz acontecer,

não importa como, nem com que,

faz da frente seu pavilhão,

recebe os louros da vitória,

a aclamação.

Quem fica,

sempre fica,

a espera é sua fortuna,

seu encontro festeja a derrota

já cansada das festas;

fala da glória,

aspira o grito, a ovação,

num sonho delicioso e vadio

que adormece cada dia,

resplandece em cada momento,

mas sem que,

dentro de si, haja

o fervor da luta,

a bandeja com o gosto de festa

para ser buscada,

recuperada...

dos sonhos, fazendo parte de um conteúdo,

daquela guerra sem soldados,

pela luta na força do existir.