QUERÊNCIA
Querência é tudo que vejo
quando gaudério me largo,
é o bueno mate amargo
deste nosso pago andejo,
é supremacia de arpejo
na melodia campesina,
é o suspirar da china
quer em canção ou lamento,
Querência é o próprio vento
que vem de plagas andinas.
Querência é porteira aberta
que pelo pago se expande,
querência é todo o Rio Grande
que num murmúrio de alerta,
trouxe a vitória crua e certa
engalanando esse pago,
onde a fibra do índio vago
marcou época na história,
querência, é canha ilusória
sorvida trago após trago.
Querência, é rancho sem luxo
coberto de Santa Fé,
é lenda de caburé
dita em roda de gaúcho,
querência é rude repuxo
que sinto na minha estampa,
quando estou longe do pampa
e a saudade me plancheia,
é o clarão de lua cheia
que na coxilha se acampa.
Querência, é a cordeona
milongueando no fandango,
é a espora, o poncho, o mango,
o pingo, o Cusco, a carona,
é a guecha redomona
escasseando em descampado,
é a carreta, é o arado
cultivando nossa terra,
é o tourito que berra
num desafio incomparado...
Querência, é mascar de freios
em carreira ou marcação,
é Lenda do Chimarrão
e o Negro do Pastoreio;
Querência, é o doce enleio
ungindo num trago longo,
do chimarrão no porongo
pelas artérias de prata,
onde a saudade desata
quando a mirar me alongo...
Querência, é pago soberbo
onde reina o vivente,
é água em mesma vertente
graxa do mesmo tutano,
é guasca mui haragano
quando está nalgum lombilho,
é saudade que entropilho
após ter sofrido tanto,
querência é causa do pranto
do rude gaúcho andarilho...
Querência, é um canhadão
colorido de pitangas,
onde corre água de sangas
regando o xucro rincão,
é flor de manjericão
em todo o lindo esplendor,
querência, é todo o amor
e esta xucra devoção,
ao imaculado torrão
e a Deus Nosso Senhor!!!
Querência é o quero-quero
que em seu gritar estridente,
dá alerta pra o vivente
de algum perigo mui austero,
querência, é chão que venero
e defendo com ardor,
é João de Barro feitor
que com perícia e paciência,
transformou nossa querência
no paraíso do Criador.
Querência, eu faço um pedido
mãos postas, joelhos no chão,
quando em meu último tirão
bem antes de ser vencido,
e a sorte ter decidido
minha última caminhada,
na derradeira jornada
que se faz para o infinito,
eu quero viajar solito
deixando o rastro na estrada.