Eu recanto
Sou ainda, a fonte cristalina
onde repousas o teu cansaço,
onde escondes toda a tua nudez
por detrás desta mesma cortina.
Sou vedado aos males do mundo,
purifico almas em toques celestiais,
pendido a tons agrestes vivo,
decifrando enigmas e mistérios.
Sou do silêncio, o palor da noite,
da alvorada, a nênia angelical.
Sou prece que aflora, fica,
palma flor vinda do chão.
Sou final de dia cansado,
crepúsculo de sol e verão,
feitiço de amores passados,
serenata de sonhos, primeiro,
sou repente, recluso, prisioneiro
de um ontem que já vai bem longe.
Sou hoje nas promessas de ontem,
teu repouso, regresso em expectativa.
Hás de se esconder pelas cortinas,
sendo o que sempre foi, fazendo o que tanto fiz.
Sou um ponto de espera
feito de enigmas e mistérios
para encobrir toda tua nudez.