Os Imortais
No início de tudo éramos apenas você e eu, éramos nós,
No tempo em que o tempo ainda não havia
O que existia era a aurora dos dias e dos nossos sonhos.
No início de tudo havia o nada; apenas estávamos nós.
Mas na alvorada a gente sabia que existia
Os nossos olhos, os nossos passos e lábios risonhos.
No começo de tudo não havia casas, palácios,
Não havia riquezas, nem interesses, nem desejos.
A vida era ser feliz andando pelas ruas,
Contemplando as nuvens e pensando no momento.
No início havia apenas todo o nosso pensamento...
Mas então chegou o tempo, duro e tão infiel;
Chegaram todas as coisas uma a uma, sem pedir.
Veio o sol, veio a lua e as estrelas,
E então nos distraíamos de tanto olhá-las, tanto vê-las...
E nos esquecíamos um do outro, mesmo lado a lado,
E nos deixávamos por muitos e longos instantes...
Havia a beleza, mas por vezes estava-se tão distante...
Não percebemos o que havia sido ignorado.
Chegaram as areias, as águas, as nuvens e tempestades;
Vieram os medos e as dores de se estar só.
Não houve tempo para estarmos reunidos outra vez...
Então vieram as plantas, as árvores, a grama,
Os homens, as mulheres e também as crianças...
De repente não havia mais espaço para nós neste lugar,
Embora já estivéssemos longe há tempos, sem perceber.
Então vieram as serpentes e as pragas da vida,
Veio a labuta e as dores, o cansaço, e todas as coisas.
Enfim, veio a morte após toda esta vida.
Enfim, vieram as areias a nos cobrir o que restou;
E devagar veio um assombro, maior que o que ficou...
Juntos estávamos lado a lado, sobre a terra,
Mesmo após tudo o que houve, e que nos encerra.
Talvez ninguém pensasse que isso poderia acontecer,
Mas foi porque foi dito antes de tudo começar:
Para uma Terra deveríamos, pois, descer,
E todas as coisas seriam para nosso sentimento testar...