Os Imortais

No início de tudo éramos apenas você e eu, éramos nós,

No tempo em que o tempo ainda não havia

O que existia era a aurora dos dias e dos nossos sonhos.

No início de tudo havia o nada; apenas estávamos nós.

Mas na alvorada a gente sabia que existia

Os nossos olhos, os nossos passos e lábios risonhos.

No começo de tudo não havia casas, palácios,

Não havia riquezas, nem interesses, nem desejos.

A vida era ser feliz andando pelas ruas,

Contemplando as nuvens e pensando no momento.

No início havia apenas todo o nosso pensamento...

Mas então chegou o tempo, duro e tão infiel;

Chegaram todas as coisas uma a uma, sem pedir.

Veio o sol, veio a lua e as estrelas,

E então nos distraíamos de tanto olhá-las, tanto vê-las...

E nos esquecíamos um do outro, mesmo lado a lado,

E nos deixávamos por muitos e longos instantes...

Havia a beleza, mas por vezes estava-se tão distante...

Não percebemos o que havia sido ignorado.

Chegaram as areias, as águas, as nuvens e tempestades;

Vieram os medos e as dores de se estar só.

Não houve tempo para estarmos reunidos outra vez...

Então vieram as plantas, as árvores, a grama,

Os homens, as mulheres e também as crianças...

De repente não havia mais espaço para nós neste lugar,

Embora já estivéssemos longe há tempos, sem perceber.

Então vieram as serpentes e as pragas da vida,

Veio a labuta e as dores, o cansaço, e todas as coisas.

Enfim, veio a morte após toda esta vida.

Enfim, vieram as areias a nos cobrir o que restou;

E devagar veio um assombro, maior que o que ficou...

Juntos estávamos lado a lado, sobre a terra,

Mesmo após tudo o que houve, e que nos encerra.

Talvez ninguém pensasse que isso poderia acontecer,

Mas foi porque foi dito antes de tudo começar:

Para uma Terra deveríamos, pois, descer,

E todas as coisas seriam para nosso sentimento testar...

Ronaldo Thomé
Enviado por Ronaldo Thomé em 04/08/2014
Código do texto: T4909435
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