RECONHECIMENTO DO AMOR

Quão cega estava a flecha,

ao cruzar o ar e rasgar os nossos peitos,

numa trajetória tão perfeita,

cuja simetria enganou nossos olhos, e seguimos,

escravizados, aos caprichos de um incoerente cupido.

Percebemos, um ao outro,

na admiração mútua dos sentimentos crescentes,

compartilhando a harmonia dos pensamentos

e estruturando afetos recíprocos e fortes.

Ainda que senhores de si,

éramos escravos arredios em observações,

até cansar os olhos.

Dispomos de nossos dons,

qual armas potentes de conquistas,

enfeitando ao ser amado com nosso brilho.

Não por acaso nos confundimos,

eternos vencedores e vencidos.

Descobrimos, em meio às afinidades,

os nossos interesses.

Passei a ver a mulher em ti e passaste a ver o homem em mim.

Nesta transição,

de amigos amantes a amantes amigos,

trouxemos a tona nossos desejos e,

num momento intemporal, revelamo-nos.

Surgiram os medos

e as bases que regem os relacionamentos foram testadas.

A soma das reações,

dispostas entre si,

levou-nos a ver na pessoa amada

a companhia à qual necessitamos e almejamos.

Colhemos os frutos do relacionamento,

amadurecidos pelas pequenas crises superadas,

no qual nos deleitamos com a certeza

de que somos mais belos

quando estamos verdadeiramente amando.

Em plena convivência,

na qual nos encontramos,

seguiram-se as provações entre os monstros que tiranizam os corações.

Sem por vezes, haver concessões recíprocas,

tolerância e fraternidade.

Obscureceu-se a beleza luminosa do amor,

hesitantes da perda da camaradagem e o gosto da conversa.

A discórdia dardejava e por pouco,

quase cedemos a perguntas e respostas não antes formuladas.

Nestas batalhas travadas entre os amantes (ou os que assim se julgam),

ficamos até reencontrar os caminhos da amizade.

Foi preciso a volta do diálogo,

retomando o local dos vocábulos breves,

devolvendo os prazeres consistentes do verdadeiro amor e do sentimento fiel de afeição.

Encantos e desencantos vieram e se foram,

mas retomamos de amantes amigos a amigos amantes,

talvez sem o vigor da cegueira do início,

todavia com a firmeza da maturidade.

Sezar Kosta
Enviado por Sezar Kosta em 03/08/2014
Código do texto: T4907635
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