Andarilho

Vem do fundo, imponente feito,

o abismo que cedo se revela

e de cá do alto medra;

gosto de fel, duro como pedra,

se põe firme aos intentos afeito.

Se cala a boca ao véu que aparece,

entre cortinas a luz emudece,

penumbra vinda, grotesca bruta,

povoa a triste pequena passagem,

fresta pra vida, janela fechada.

Ressoa, grita, ecos pausados,

responde, geme, noites escuras.

Passos lentos, trôpegos, cansados,

passeiam aos braços do amparo alheio.

Recrutam marcas, fadigas pelo chão,

do fundo da vida, a margem da existência.

Ah, luzes que me faltam, raios que se vão,

que se misturam a tantas coisas perdidas.

Ah, legado irreverente

que faz de mim e de tanta gente,

um troféu de pó, passando pela vida.