BOA NOITE

De repente o céu fez-se rubro

Mas me esqueci de ver o pôr do sol

De repente o quarto estava escuro

E nas teias acumulava-se o pó

O rádio tocava o bom e velho Raul

No teto as estrelas falsas brilhavam

Mas eu não vi a estrela Dalva no Sul

E nem as moças novas do bairro

Eu segurava um retrato e uma carta

Pensando no passado e no nada

Mas não ouvi o gorjear do último pássaro

E nem percebi o avançar do horário

Meus gatos roçavam minhas pernas

A água para o café evaporava

Mas eu não vi quando chegou a madrugada

Trazendo nuvens cinzentas, incertas...

Um raio caiu distante como um açoite

E de repente compreendi tudo

Eu não queria mais nada do mundo

Queria apenas te dar boa noite.

Marcel de Alcântara

18/05/2003

Marcel de Alcântara
Enviado por Marcel de Alcântara em 30/07/2014
Reeditado em 30/07/2014
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