Quando afastam os cílios

A gota ávida serena se deita,

rola, queda, macula o seio;

bebo a virtude transparente, afeita,

a tingir minha boca na boca agreste,

selvagem aos rumores breves, perenes,

dócil, cândida ao toque do beijo.

Se vê ainda o corpo despido

bailando a festa ardente do desejo;

mergulho no corpo quase em desvairo,

fazendo da noite um palco rebelde,

e de tanto amor um santuário de crenças.

Rodopia o tempo no que faço,

gira o corpo, no corpo debruço,

abafado desprende um soluço;

altiva se posta a gazela;

no ar, apenas um grito,

no peito, um aceno de saudade

e na boca, ainda o beijo dela;

última gota de sonho

antes de se abrir a realidade.